“Um dos principais desafios do ser humano é ser contemporâneo de si mesmo”, Sören Kierkegaard (1813 – 1855).
A Reforma Protestante foi um dos maiores acontecimentos da história da Igreja de Cristo em todos os tempos e sem dúvida não é um assunto restrito aos “mais velhos”. Neste ano em que comemoramos seus 503 anos, em tempos de smartphones, realidades aumentadas e redes que agregam milhões instantaneamente, temos o grande desafio de entender sua dimensão contemporânea.
Isto é possível, já que a herança teológica e missionária da Reforma mudou o entendimento da forma como nos relacionamos com Deus e sua missão. Então podemos perguntar: o que os jovens podem aprender com este acontecimento histórico e que efeitos imediatos a Reforma (ainda) pode causar na vida da juventude de hoje?
DEUS ESTÁ ACESSÍVEL
Um marco teológico da Reforma é compreender que nossa relação com Deus não é aprisionada pela relação com a Igreja Institucional. A Igreja é meio para nos relacionarmos com Deus, mas ela não é detentora do poder de acessibilidade a Ele. Deus está disponível direta e individualmente. A obra de Cristo na cruz rasgou o véu do santuário “de alto a baixo” (Marcos 15,38) e, pela graça, nos deu livre acesso a Ele.
Sendo assim, como conhecer a Deus? Por meio das Escrituras.
A Reforma Protestante foi a grande responsável pela democratização da Bíblia. Foi ela que encorajou teólogos e líderes governamentais a traduzir e reproduzir milhares de cópias da Bíblia para nações inteiras, como a Alemanha. O conhecimento bíblico que outrora era exclusivo do Clero passou a estar disponível desde a infância. Uma geração inteira poderia ensinada sobre Deus.
Quando nós buscamos a Deus e o encontramos na Palavra, inevitavelmente nos envolvemos com sua missão. Uma prova disso é todo o livro de Atos dos Apóstolos. A compreensão de Deus e o envolvimento direto com Ele trouxeram, de fato, ao adolescente e ao jovem uma pessoalidade e, consequentemente, um despertamento vocacional.
O jovem começou a entender muito melhor que Deus tinha um propósito para ele também, e não somente para a Igreja de modo geral; que a missão tem origem na vontade de Deus, e não no desejo apenas da Igreja como religião.
Até hoje isso ainda faz muita diferença: uma vida devocional séria com Deus ajuda o jovem a perceber os caminhos do Senhor para ele, dando-lhe um discernimento sobre como Deus quer usá-lo.
VOCAÇÃO UNIFICADA
Um dos fatores mais revolucionários da Reforma para o mundo ocidental foi a compreensão integral de chamado e vocação. Se antes o conceito era compreendido apenas como parte das funções religiosas dos padres, após a Reforma o trabalho comum, do dia a dia de todos, também começou a ser visto como como sagrado, como expressão da vocação de cada cristão.
Com isso, as relações econômicas mudaram e os cristãos – não somente os clérigos – empenharam-se em transformar a sociedade por meio de seus dons e habilidades mais gerais. Este entendimento deu base para que houvesse uma unificação de vocação e trabalho sintetizada na famosa expressão “sacerdócio universal de todos os crentes”.
Para o jovem, isso é revolucionário!
Sua capacitação profissional não precisa estar à parte do seu chamado. A vida com Deus não significa somente realizar atividades na igreja local, mas também servir ao Senhor em seu ambiente de estudo, de trabalho, em sua família.
Trata-se de uma única coisa: o trabalho faz parte do chamado, a nossa vida integralmente deve ser vivida para o Senhor. Ser, de fato, “sal e luz” em todo lugar (Mateus 5, 13-14).
A REFORMA HOJE
Essas duas poderosas verdades que a Reforma Protestante resgatou não podem ser ignoradas. Nossos líderes e pastores precisam levar a sério esses conceitos e então ensiná-los aos jovens. Se conseguirmos fazer isso, iremos destravar o imenso potencial da juventude na missão de Deus.
Nossos jovens serão conhecidos, assim como os primeiros cristãos, como “os que transformaram o mundo” (Atos 17,6). Eles serão médicos, educadores, advogados, pastores, missionários, empresários, artistas que, a partir de um profundo relacionamento com Deus e da leitura das Escrituras, servem a Ele em todo o tempo para sua exclusiva glória.
Precisamos fazer uma releitura da Reforma para a juventude, principalmente neste momento tão especial em que ela completa 503 anos. Precisamos restaurar o que se perdeu e, por meio disso, despertar e trazer de novo a importância do que a Reforma trouxe a toda a Igreja, inclusive à juventude.
Isto, sim, é honrar a história.
Soli Deo Gloria!
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Por Weslley Kendrick Silva – lidera várias iniciativas sociais, educacionais e missionais. É sócio-diretor da UniCesumar e presidente do Instituto UniCesumar, Instituto Missional e idealizador da UniMissional.